Hemorragias pós-parto: como tratar uma das principais causas de mortalidade materna?

Quadros de complicações hemorrágicas após o parto, infelizmente, são grande causa de mortalidade feminina no Brasil e, também, internacionalmente.

Conhecer os principais aspectos do problema e as abordagens médicas ao mesmo, são medidas fundamentais para que informações sobre a hemorragia pós-parto alcance cada vez mais pessoas e possa, assim, ser desmistificada!

O problema se caracteriza pela excessiva perda sanguínea após o parto vaginal ou parto cesárea. Em geral, a classificação da hemorragia é feita a partir de seu tempo de aparecimento:

Hemorragia pós-parto primária: quadros de hemorragia nas primeiras 24h após o parto.

Hemorragia pós-parto secundária: quadros de hemorragia após 24h pós-parto, com alcance de até 6 semanas posteriores.

A origem do sangramento pode estar relacionada ao tônus uterino, presença de traumas – como hematomas, inversões e lacerações – retenção de tecido placentário, coágulos e até mesmo aspectos congênitos.

Identificar os fatores de risco precocemente e acompanhá-los durante o pré e pós-natal é uma medida fundamental para a redução de riscos da hemorragia pós-parto.

Histórico de hemorragia, presença de distensão uterina e de problemas de coagulação, placentação, uso de anticoagulantes, diagnóstico de anemia, pré-eclampsia ou hipertensão gestacional, são alguns dos fatores a serem levados em conta.

Além destes, partos de longa duração, placentação anormal, laceração vaginal, parto instrumentado e descolamento prematuro de placenta também são diagnósticos que devem acionar o sinal de alerta para o risco de hemorragias.

E quais são as abordagens para contenção do sangramento?

Dentre as abordagens utilizadas para controlar a hemorragia e o seu foco, há a massagem uterina, tamponamentos com gazes ou balões e tratamento medicamentoso. Procedimentos cirúrgicos, a depender do quadro e gravidade, também podem ser necessários, como suturas compressivas, ligaduras das artérias e a histerectomia. Essas são técnicas comumente utilizadas, mas que, por vezes, podem apresentar ineficácia.

O uso de técnicas advindas da radiologia intervencionista tem se mostrado promissor, seja para o controle da hemorragia ou para a preservação da saúde da mulher e sua capacidade reprodutiva.

A partir do acesso arterial e com o uso de cateteres com pequenos balões em suas extremidades, o médico intervencionista alcança as artérias uterinas e “infla” esses mesmos balões, imediatamente após o parto, reduzindo assim o fluxo da hemorragia ou até mesmo prevenindo sua presença.

Após o controle da perda sanguínea pelo cirurgião obstétrico, os balões podem ser esvaziados e os cateteres retirados. Caso a hemorragia retorne com essa medida, há ainda a possibilidade de controle a partir da embolização das artérias.

O procedimento consiste na punção e cateterismo da artéria uterina e uso de material embólico na região acometida pelo sangramento. Esta técnica – geralmente rápida e pouco invasiva – tem apresentado sucesso em relação ao quadro hemorrágico, morbidade materna e preservação da saúde da mulher.

Vale lembrar que as técnicas da radiologia intervencionista podem ser vinculadas com outros procedimentos cirúrgicos, para uma abordagem mais completa ao quadro de cada paciente.

Avanço nas pesquisas: nosso grande desafio

Os benefícios e alcance da radiologia intervencionista na área da obstetrícia é um campo a ser ainda mais explorado, a partir de novos estudos e perspectivas!

A implementação de protocolos, presença do médico intervencionista em centros obstétricos e acompanhamento multidisciplinar de cada paciente, com avaliação de riscos e histórico, são medidas que tendem a potencializar a prevenção às hemorragias pós-parto e sua taxa de mortalidade.

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