Série Especial de Radiologia Intervencionista: A busca pela excelência médica - Charles Dotter e a primeira angioplastia
Uma artéria bloqueada: evidentemente, essa história não poderia começar de outra maneira.
Em 1964, uma senhora de 82 anos procurou a ajuda de uma equipe de médicos da Oregon Health Sciences, nos Estados Unidos. Dentre suas queixas, uma dor intensa e persistente no pé esquerdo e, também, a presença de uma úlcera de difícil cicatrização.
A equipe do centro médico, notando a má circulação e necrose dos dedos da paciente, recomendaram a amputação do membro - procedimento relativamente comum em casos como esse. Felizmente, a senhora recusou essa opção, e o caso chegou até o Dr. Dotter, que já naquela época estudava a perspectiva de uso de cateteres para a desobstrução de artérias.
Uma história de excelência, mas também de determinação
Médico radiologista, Charles Dotter realizava inúmeros testes e estudos de imagem, visando principalmente o campo da cirurgia. Com o uso de um cateter e raio-X, ele trabalhava ao lado de cirurgiões, para que os mesmos pudessem precisar qual seria a região de determinada intervenção e a melhor abordagem para cada paciente.
E aqui está um ponto chave desta trajetória, que alterou não só a vida de milhares de pacientes, mas também alguns dos pressupostos da medicina moderna: Dotter almejava identificar artérias e vasos, mas também tratá-los da maneira menos invasiva possível.
O seu lema mais conhecido era o de que se um encanador pode fazer isso (desobstrução) com canos, nós também podemos fazer com vasos sanguíneos. Provavelmente tendo em vista esta máxima, em 16 de janeiro de 1964 - exatos 58 anos atrás! - foi realizada a primeira angioplastia de que se tem notícia.
Charles Dotter identificou o bloqueio, presente na artéria femoral superficial e, com uma punção, agulha e cateter, alcançou lentamente a região bloqueada e a desobstruiu. As queixas de dor desta primeira paciente foram curadas, e sua úlcera cicatrizou. Exames posteriores demonstraram o sucesso do procedimento!
E depois deste primeiro passo?
Após sua primeira angioplastia, Dotter investiu no aprimoramento da técnica e na produção de novos cateteres, aperfeiçoados para diferentes alcances e adoecimentos. Essas novas descobertas e tentativas foram feitas em parceria com Bill Cook.
Nascia não só a Radiologia Intervencionista, como também um revolucionário tratamento de lesões vasculares periféricas. Mas, para quem acredita que deste ponto em diante o sucesso chegou, se engana!
Dotter foi desacreditado por uma parte da comunidade médica dos Estados Unidos e suas perspectivas a respeito da radiologia foram rejeitadas por muitos centros de referência. Gradativamente, outros médicos se interessaram por suas ideias e descobertas e passaram a utilizá-las, principalmente na Europa.
Sempre há, ainda que não tenhamos descoberto ainda, uma maneira melhor de curar uma doença: esta foi a vocação que guiou todo o trabalho de Dotter, que não só realizou a primeira angioplastia da História, como também descreveu o cateter balão de duplo lúmen, cateterismo por balão direcionado ao fluxo, stent arterial percutâneo e muitos outros procedimentos.
A Neocure celebra a história de inovação, criatividade e coragem de Charles Dotter, e se orgulha em contribuir para os avanços da Radiologia Intervencionista no presente!