Ablação percutânea: alternativa no tratamento do câncer

O que é ablação percutânea?

A ablação percutânea é o procedimento minimamente invasivo que tem como objetivo tratar alguns tipos de tumores. O raciocínio por trás do procedimento é simples: levar uma agulha, probe ou antena até o tumor e aplicar através dela alguma tecnologia que aumenta ou reduz a temperatura local e que leva à destruição do mesmo.

No passado, era usada como alternativa de tratamento nos casos em que a cirurgia convencional para retirada do tumor não poderia ser realizada ou era recusada pelo paciente.

Atualmente é primeira escolha no tratamento de alguns tipos de tumores em estágios precoces, pode ser aplicada com mesma efetividade para outros tipos de tumores e, para um terceiro grupo de tumores, é indicada em casos de irressecabilidade ou alto risco cirúrgico.

A premissa inicial da ablação é levar à cura do tumor tratado, porém em algumas situações passou a ser indicada para o tratamento de sintomas relacionados ao tumor, principalmente dor crônica.

Em quais tipos de tumores pode ser realizada?

Pode ser realizada em alguns tipos de tumores do fígado, rins, tireóide, pulmões e ossos.

No fígado, é utilizada para o tratamento curativo de hepatocarcinoma em estágios iniciais da doença. As metástases hepáticas também podem ser tratadas através da ablação, também com intenção curativa para cada um dos nódulos tratados.

Nos rins, a ablação tem indicação em tumores que se iniciam no órgão, sejam eles benignos ou malignos, também em estágios iniciais da doença. Quando aplicados, impedem que haja necessidade de remoção de parte do rim, com grandes chances de não levarem à piora da função renal.

Nos pulmões, a ablação é indicada para o tratamento de metástases hepáticas de pequenas dimensões, tanto de um lado, quanto dos dois lados dos pulmões. Geralmente o tratamento de lesões nos dois pulmões costuma ser realizada em dois estágios e em dias diferentes. Não é muito frequentemente utilizada para o tratamento de lesões únicas que se iniciam no pulmão, sendo nesses casos indicada apenas quando a cirurgia é absolutamente contra-indicada.

Na tireoide, a ablação costuma ser indicada em nódulos benignos, hipersecretores ou não, que apresentem queixas clínicas e nos nódulos que seguem com crescimento constante, mesmo antes de apresentarem sintomas importantes. A ablação pré-operatória buscando redução de volume e aumento da segurança da cirurgia de lesões grandes é indicação menos frequente.

Alguns tumores ósseos benignos e malignos podem ser tratados com a intenção principal de alívio da dor decorrente das lesões e de sua invasão ou compressão de outras estruturas.

Todos os pacientes portadores de tumores malignos submetidos a ablação deverão manter o acompanhamento por alguns anos para serem considerados curados, do mesmo modo que acontece quando são submetidos a cirurgia de remoção do tumor, radioterapia ou quimioterapia.

Como é realizada?

É feita através da aplicação controlada de diferentes tipos de tecnologia que promovem aquecimento, como é o caso da radiofrequência e do microondas, ou de resfriamento, como na crioablação. Essa aplicação é feita de forma precisa no interior do tumor, guiada pelos diferentes métodos de imagem, e isso reduz o risco de lesão ao tecido saudável ao redor.

O médico intervencionista utiliza métodos de imagem para guiar o posicionamento correto das agulhas através da pele (percutâneo). Os recursos de imagem mais utilizados são a Ultrassonografia, Tomografia Computadorizada e, eventualmente, Ressonância Magnética. Pode ser realizada também durante as cirurgias oncológicas (ablação intra-operatória), com utilização da ultrassonografia.

Quais são os principais tipos de ablação e a diferença entre eles?

Na ablação por radiofrequência, a agulha é acoplada a um gerador que produz uma corrente elétrica que atravessa o corpo do paciente e produz, apenas na ponta da agulha, a agitação de átomos que leva ao aquecimento e destruição por necrose coagulativa dos tecidos daquela região. No caso, do tumor.

Na ablação por microondas, a antena utilizada produz ondas eletromagnéticas no espectro de microondas ao redor da agulha que também levam ao aumento de temperatura, porém de forma mais rápida que a radiofrequência, destruindo o tumor. Como é mais rápida, pode ser utilizada com maior segurança em tumores maiores e pacientes que necessitam de tratamentos rápidos por risco anestésico elevado.

Na crioablação, os probes são posicionados no tumor e gases se movimentando no interior dos probes levam a uma acentuada redução de temperatura, com formação de uma bola de gelo, com ciclos que, congelam e descongelam o tecido tumoral, processo que leva à sua destruição.

Qual melhor tipo de ablação para o meu caso? 

A escolha do tipo de ablação depende do tipo, tamanho e localização do tumor, visando as melhores respostas. O médico intervencionista, após avaliação clínica e dos exames de imagem, poderá definir o melhor método para cada caso.

A radiofrequência é o método mais utilizado, com adequada eficácia, podendo necessitar utilização de outra tecnologia em caso de localização do tumor próxima a grandes vasos e tumor de maiores dimensões ou em maior número. Como já citado, pacientes com risco anestésico elevado podem se beneficiar da ablação por microondas pela redução do tempo cirúrgico, principalmente em lesões de maiores dimensões ou em maior número de lesões.

Quanto tempo dura o procedimento?

O tempo pode variar, mas a maioria dos procedimentos de ablação percutânea duram aproximadamente 2 horas.

Após o término, há o período de recuperação da anestesia, que varia entre cada paciente, de acordo com sua condição clínica e o número, localização e dimensões dos tumores tratados.

Como é a recuperação?

Após o procedimento, a grande maioria dos pacientes necessitará de observação hospitalar durante 2 a 3 horas após o término do procedimento, com alta hospitalar no mesmo dia.

Pacientes com tumores pulmonares e tumores renais em algumas localizações poderão necessitar internação por 1 ou 2 dias.

Pacientes com nódulos de tireoide recebem alta em menos de 1 hora após o término do procedimento.

Após a alta, são orientados a manter repouso relativo por cerca de 2 a 3 dias e rapidamente já poderão retornar às atividades do dia a dia.

 Ablação percutânea é segura?

A ablação percutânea tem baixas taxas de complicações (variando entre 2% a 3%).

Na maioria dos casos, serão complicações leves, como formações de pequenos hematomas na pele, náuseas e dor local, não irão requerer internação, sendo bem toleradas pelo paciente.

Em alguns levantamentos, para alguns tipos de tumores, pode-se observar em até cerca de 40% dos pacientes apresentam febre baixa, desconforto e cansaço nos dois a três dias após o procedimento. Esses sintomas são passageiros facilmente controlados com medicações.

Escrito por:

Dr. Lucas Moretti Monsignore

CRM/SP 121.017 - RQE 38.296/38.297

Atualmente um dos diretores da Sociedade Brasileira de Radiologia Intervencionista e Cirurgia Endovascular (SOBRICE), entidade representativa da especialidade. Presidente da Comissão Científica do Congresso da SOBRICE 2021.

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